O cérebro
Constitui a parte mais desenvolvida e mais volumosa do encéfalo, apresentando uma superfície rugosa onde se observam circunvoluções e compreende os dois hemisférios, esquerdo e direito, ligados entre si pelo corpo caloso. O esquerdo é responsável pelo controlo da metade direita do corpo e vice-versa, fenómeno fruto de um cruzamento de fibras nervosas no bulbo raquidiano.
Erradamente se afirma que o hemisfério esquerdo é, de uma forma geral, dominante em relação ao direito. Cada um dos hemisférios é dominante para um grupo de operações distintas, ou seja, a informação que chega a uma mesma região dos dois lados do cérebro é sentida igualmente por ambos, sendo no entanto interpretada de maneira diferente em cada hemisfério.
Apesar de muito estar ainda por descodificar respectivamente à relação entre anatomia e fisiologia cerebral, atribui-se frequentemente ao hemisfério direito o controlo sobre as percepções artísticas e espaciais e ao esquerdo uma maior envolvência nas tarefas de selecção de detalhes.
Em cada hemisfério é possível observar uma camada externa de substância cinzenta, o córtex cerebral, formado por neurónios e por células glia, e uma branca, que ocupa o centro, constituída principalmente por axónios e também por células glia.
As diferentes partes do córtex cerebral estão divididas em quatro lobos cerebrais distintos: O lobo frontal que fica localizado na região da testa; o lobo occipital, na região da nuca; o lobo parietal, na parte superior central da cabeça; e os lobos temporais, nas regiões laterais da cabeça (fig. 4).
Esta distinção é feita pois a diferenciação celular que ocorre durante o desenvolvimento embrionário, quando parte das células se diferenciam em células nervosas que migram para zonas específicas do sistema nervoso, consoante a sua especialização, dá origem a regiões com funcionalidades próprias.
Aquilo que hoje se sabe acerca das funções de diferentes partes do cérebro foi retirado da observação de lesões cerebrais e de activações observadas durante a realização de certas tarefas, com a recente ajuda do amital sódico, substância que quando injectada directamente numa artéria anula momentaneamente a função da região cerebral por ela irrigada.
Esta permitiu, por exemplo, verificar que a teoria de que a preferência pelo uso da mão direita estava relacionada com a dominância cerebral esquerda da linguagem estava errado. Hoje sabe-se que o hemisfério esquerdo é responsável pelos processos de linguagem na maioria dos dextros e em mais de metade dos canhotos e ambidextros, provando-se assim que tal associação não pode ser considerada funcional, e deriva de razoes genéticas.
Convém explicar este conceito de dominância esquerda relativamente à linguagem. Em 1861,o neurologista francês Paul Broca alertou para o facto das alterações da linguagem estarem directamente ligadas a lesões cerebrais no hemisfério esquerdo e identificou a sua localização no cérebro, ficando esta conhecida por área de Broca. Aliás, foi devido a esta descoberta que se considerou o hemisfério esquerdo o dominante, já que a linguagem era a sede da razão e aquilo que diferenciava o Homem dos outros animais.
Depois da descoberta de Broca verificaram-se diferenças anatómicas entre os dois hemisférios. Este facto deve ser realçado pois ao contrário do que muitos possam pensar, os hemisférios são morfológica e funcionalmente distintos, existindo assim uma assimetria entre ambos.
O desafio que se tem revelado mais difícil na história da fisiologia cerebral tem sido a atribuição de funções aos lobos temporais.
De facto, apesar de existirem regiões mais aptas a certos tipos de função, as funções cerebrais só são possíveis no funcionamento de todo o cérebro, sendo por isso difícil determinar especificamente as funções de cada uma das partes. Esta separação de funções é contudo mais válida no caso das regiões onde ocorrem eventos ligados ao acto motor (circunvolução frontal ascendente) e à sintetização de sensações que se traduzem numa percepção, que se sabem presentes no córtex motor e córtex sensorial, respectivamente, como indica na figura 4.
Com rigor se pode também afirmar que o processamento de informações relacionadas com a visão é feita no córtex occipital e que numa determinada área do lobo occipital, em torno do “rego calcarino” termina a via da retina que transporta essa informação visual para ser tratada.
Quanto ao lobo temporal sabe-se que dispõe de uma área relacionada com a audição. Já ao lobo parietal é atribuída a função de receber a informação proveniente dos receptores de sensibilidade que se encontram na pele espalhados por todo o corpo.
Pode-se ainda adiantar que a circunvolução frontal está ligada à ocorrência de fenómenos bioeléctricos relacionados com a motricidade, e a parietal com fenómenos ligados à sensibilidade do corpo.
No que diz respeito aos lobos frontais, muito resumidamente, admite-se que nestes decorra a maior parte da actividade relacionada com a execução de tarefas complexas, que não necessitam de integrar informação de outras partes do cérebro.
Quanto ao sistema límbico, as suas funções dizem respeito à memória e a aspectos afectivos.
Vários estudos experimentais foram realizados no sentido de atribuir funções aos lobos temporais e dois pontos foram tomados como cientificamente correctos: o lobo frontal activa-se durante o desempenho de provas de memória (com maior envolvência da face dorso-lateral do córtex) e no caso de provas de atenção verifica-se a activação da face interna dos lobos frontais.
O córtex frontal está anatomicamente dividido em córtex motor, ligado à motricidade, como já dissemos, córtex pré-motor que representa o córtex de associação motora, e córtex pré-frontal que recebe informação do córtex sensorial de associação e que está muito ligado ao sistema límbico. a função deste ultimo pode ser muito dificilmente isolada dado que os mecanismos aqui processados são muito complexos na integração de funções